Quem somos

CIM Organização não governamental, integrada por professoras, pedagoga, profissional da saúde, educadoras popular, biólogas, ativistas e arte educadoras que atuam em eixos interligados de articulação política, produção e divulgação de conhecimentos que dizem respeito à Efetivação dos Direitos da Mulher (civis, políticos, sexuais, reprodutivos, de assitência integral à saúde - PAISM e de erradicação da violência e da discriminação) , do uso e ocupação do solo, da função social da cidade, do meio ambiente, da cultura e arte cidadania, da inclusão digital, do desenvolvimento humano, econômico e sustentável com justiça social, cultura de paz e uma educação não sexista.

13.5.09

Mulheres da Guarda Civil Municipal


Vera Lúcia e Marta


GCM 3ª Classe Vera Lúcia



Marta Classe Distinta



Guarda Civil Municipal Feminina



Em abril de 2009 a coordenação do CIM realizou 3 palestras contribuindo com a formação de 40 GCM masculinos e 7 GCM femininos. Em contato com a Guarda Civil Municipal de Guarulhos as coordenadoras Paula Alves dos Santos e Selita Maria Santos da Costa conheceram Marta Aparecida Pereira Santos, 42 anos, Classe Distinta, com 12 anos de profissão e Vera Lúcia dos Santos, 38 anos, trabalha na administração, 3ª classe, com 7 anos de profissão. Considerando a importância da participação das mulheres na GCM quanto ao atendimento das mulheres vítimas de violência a coordenação do CIM decidiu entrevista-las. A maioria da Guarda Civil Municipal de Guarulhos é obviamente do gênero masculino e incentivar mais mulheres a participarem dos concursos e ingressarem na GCM é uma das proposições da entrevista.


Marta Aparecida Pereira dos Santos, 42 anos, separada, classe distinta

Marta casou aos 16 anos quando engravidou de sua filha, acreditava que deveria constituir família e que seria para sempre. Antes de ingressar na GCM trabalhava como escrituraria na Secretaria da Educação do Estado de São Paulo. Executou o serviço por 6 anos. Em 1997 assumiu o cargo na GCM,sua filha tinha 11 anos e seu filho 6 anos. Sua mãe cuidava dos filhos para que Marta trabalhasse nos plantões da Guarda Civil Municipal (12 horas) no posto administrativo, ronda escolar, montava os processos disciplinares com regimento interno e outros. Por ser negra conta que havia discriminação, porém velada. Relata que nunca sofreu discriminação por parte dos GCMs masculinos, sobretudo foi discriminada por GCM feminino na época que dizia que Marta era gorda (98Kg) e que não iria passar para nenhuma outra graduação. Muitas mulheres foram discriminadas por estarem grávidas, por serem gordas, bonitas e ataques diversos, não por guardas M, mas por guarda F. Além da discriminação na profissão sofria com seu marido que por ciúmes dizia “ Se está onde está é porque fez coisas que não deveria ter feito!” "Não sei o que você fez para sua ascensão!”. O resultado das violências psicológicas foi à depressão: chorava muito. Ajudada pela mãe curou-se da depressão em 2 anos. Iniciou um regime e está pesando 68 Kg. Nos plantões de 12 horas ficava despreocupada, pois sua mãe a fortalecia nos cuidados e educação das crianças. Hoje sua filha tem 23 anos e tem um casal de filhos e seu filho 19 anos.

Com um neto de 8 anos e uma neta de 1 ano Marta, que lutou muito prova que as mulheres não devem desistir nunca. Quando era casada era cobrada para realizar os serviços domésticos e impedida de participar de festas, eventos, inclusive de sua própria formatura. Evidente que gostaria que o marido participasse. Determinada quer fazer o curso de Direito, na GCM é responsável pelo canil construído por sua equipe em julho de 2007 e inaugurado em junho de 2008, relata com orgulho que ela e sua equipe fizeram um curso de adestramento e condução de cães. Ao mostrar o espaço construído com dedicação explica que cada cão tem habilidades que são descobertas conforme o treinador vai testando, uns farejam drogas, outros policiamento ostensivo, apresentam em escolas, eventos, instituições e parques. Embora tenha entrado na GCM por questão salarial ama a sua profissão. Compartilha com os guardas a divisão de tarefas na limpeza do canil da GCM , no fazer café e outras atividades que dizem ser realizadas apenas por mulheres.


Vera Lúcia dos Santos, 38 anos, casada, 3ª classe.

Vera Lúcia dos Santos ingressou na GCM em agosto de 2002. Antes era do lar, perdeu a mãe e até os 18 anos ajudou o pai a criar os 7 irmãos. Não deixou de estudar por isso e, seu pai a incentivou a prestar concurso. Sua preocupação era ser mulher, como poderia ser guarda? O pai esclareceu que para ser guarda tanto fazia ser mulher ou homem e pagou a sua inscrição. Lúcia diz que sofreu muita discriminação na adolescência por ser excessivamente magra era chamada de “Caveirinha”, odiava isso, a sociedade costuma estereotipar as pessoas por serem magras ou gordas, são vítimas de discriminação. com um filho de 4 anos, seu plantão é das 9 horas às 18 horas e quando pode faz hora extra. Agradece o amor e carinho da “sogra-mãe” como diz ela “minha sogra-mãe Maria de Jesus cuida do meu filho, sinto falta de acompanhar o crescimento dele, mas ela me ajuda em tudo”. Conheceu seu esposo, namorou 4 anos e tem 16 anos de casada. Antes de ingressar na administração da GCM era Guarda 3 (Guarda Patrimonial), como se fosse controladora de acesso. Sentiu-se discriminada tanto ela como os outros guardas masculinos quando foram chamados para trabalhar na GCM, diziam que Guarda 3 não tinha capacidade para ser GCM, contudo provaram que podem e Lúcia é um dos exemplos desse grupo. Cursa Pedagogia a distância, quando o bebê dorme Lúcia vai para o computador, quer subir a graduação na GCM, sempre realizou o trabalho administrativo com amor e dedicação, não quer deixar a profissão. Quer fazer o melhor, ser competente é seu dilema. Lúcia relata que a divisão de tarefas com seus companheiros não é problema, fazem almoço juntos “as mulheres da GCM são muito valorizadas”. Mulheres negras são poucas. “Hoje as mulheres na GCM são unidas tanto no trabalho quanto na vida pessoal, dividem os problemas e ajudam as novas GCMs, principalmente quando se trata da saúde dos filhos, tratamos com respeito as GCM F, afinal somos mulheres”.


Enfrentamento a violência

Relatos de apoio das Guardas Civis Municipais Femininas

Marta- os cães de policiamento ostensivo fazem a prevenção de atos violentos em parques, eventos, jogos, escolas. Em dezembro de 2008 a torcida queria agredir o juiz e o bandeirinha no campo de futebol. Um GCM colocou o cão a 1 metro e meio entre a torcida, o juiz e o bandeirinha, o cão latia e a torcida não avançou, as pessoas tem mais medo dos cães que das armas.

Lúcia- em novembro de 2008, eu e um estagiário da GCM estávamos fazendo ronda e ouvimos pedidos de socorro dentro de um ônibus, um homem assaltando espancava o motorista que abriu a porta, enquadramos o homem, lógico que com o apoio da GCM.


Qualidade da GCM

Regime disciplinar

Segundo Marta e Lúcia o regime disciplinar atualmente é mais humano, coerente e, portanto justo para ambos os gêneros. De 4 anos para cá a qualidade do trabalho e as preocupações foram intensificadas, pois as mulheres:

Ganharam mais dignidade e respeito, são necessárias no atendimento as mulheres vítimas de violência não ficando somente no administrativo, são prestigiadas todos os anos na semana de 8 de março por serem reconhecidas profissionalmente, tem 180 dias de licença maternidade (antes eram 90 dias) e trabalham em cooperação sem distinção de gênero.


Fala mulherada!

Frases ditas ao término da entrevista por Marta e Lúcia:

“Insistir sempre, desistir jamais!”


“Prosseguir sempre, render-se jamais!”


“Há dois tipos de pessoas: as que fazem as coisas e as que ficam com os louros, procure ficar no primeiro grupo, há menos competição lá.”

Indira Gandhi

4 de maio de 2009



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